segunda-feira, 18 de junho de 2007

Nossa ilha perdida

Coluna Carlos Damião ; 18/6/2007

Canasvieiras e Ingleses eram, até a década de 1980, paraísos da elite florianopolitana. Ter uma casa de veraneio nos dois balneários era símbolo de status. Canasvieiras, desde o início do século 20, era conhecida como “praia dos ricos”. Ingleses começou, muito tardiamente (do lado esquerdo de quem chega), uma organização urbana que hoje já se mostra superada. Em poucos anos os dois lados da praia serão iguais em problemas de saneamento.

A urbanização descontrolada transformou as duas praias, nos últimos 15 anos, em bairros de periferia, com a ocupação totalmente ilegal de áreas privadas e públicas, à base do “fato consumado”. Isto é, o sujeito compra de um grileiro o direito de construir um barraco por R$ 2 mil ou R$ 3 mil e cria um problema social. Para tirá-lo dali, só construindo uma casa que compense a mudança.

Há uns quatro anos, entrevistei o então presidente do Crea-SC, Rogério Novaes, que desenvolveu uma longa e apropriada análise sobre esse problema, alertando para os perigos que a permissividade política estava produzindo na periferia das grandes cidades catarinense. Em outras palavras, a formação de uma favela obriga o governo a produzir residências de custo unitário estimado em R$ 30 mil para retirar os ocupantes das áreas de risco.

Essa grave distorção, cujo custo é bancado por todos nós, é estimulada por significativa parte dos candidatos a cargos eletivos, tanto municipais quanto estaduais. É essa massa de excluídos, formada por migrantes desesperados, sem qualquer vínculo com a história e o desenvolvimento da cidade, que elege alguns vereadores, prefeito, deputados e governador [que, por sua vez, também não têm qualquer compromisso com Florianópolis]. Essa relação, sabemos bem, funciona à base de favores, de clientelismo e arranjos diversos, para dizer o mínimo. Foi assim nas últimas três eleições. Pode ser assim, de novo, em 2008, se ninguém tomar providências.

Mas vamos esperar providências por parte dos detentores do poder? Nem brincando.

É no campo eleitoral que se faz necessária uma nova Operação Moeda Verde. Só será possível melhorar esse quadro de barbaridades se o Ministério Público, a Polícia Federal, os políticos e autoridades responsáveis e as organizações não-governamentais arregaçarem as mangas para denunciar e coibir os abusos. Porque, caso contrário, as favelas de Ingleses e Canasvieiras vão estender seus domínios para todos os outros cantos da Ilha de Santa Catarina.

P. S. - Que a ninguém se negue o direito de morar no paraíso. Mas dentro das regras. A pergunta é: quem está interessado em seguir (ou cobrar) as regras?

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